Thursday, May 12, 2011

Assim ou assado

O papo rolava solto... num tom de domínio perfeito.
Um assunto vinha à tona e logo alguém dizia algo pra aumentar a conversa e impedir que outro assunto pudesse vir a pauta.
E eu na minha quietude só ouvindo o que os outros proseavam
A prosa foi longa, de receitas a histórias, tudo com muita propriedade mesmo sem que a experiência lhe conferisse autoria.
A receita nunca antes experimentada ganhava ares de degustação, com direito a diversificação de ingredientes num pensamento recorrente do ecológico ao economicamente correto.
Frutas da época é mais barato e certamente mais fácil de achar.
Quem ouvia, muito pouco sabia, e então admirava a eloquência dos que diziam.
O prato até parecia bom, só faltou mesmo a salivação.
Imaginação... achismo infundado...
Melhor assim ou melhor assado...
Na mudez da história não cabia intervenção do ator, e a estória foi contada com releitura inventada, e eu calada em meu canto já não sabia se era a minha ou mais uma dentre tantas criadas.

Wednesday, May 04, 2011

Revirando o baú

Nos últimos tempos tenho parado para pensar o que realmente tem feito sentido e diferença na minha vida. O que deve ser conservado e o que pode ser descartado sem grandes remorsos. Um verdadeiro exercício de desapego! De paciência!
Surpreendi-me com a quantidade dos guardados. Incrível, que com o passar do tempo desenvolvemos o hábito de guardar coisas, tralhas, quinquilharias, lembranças, emoções e sentimentos por acreditar que em algum dia vamos precisar do que foi guardado.
Remexendo meus guardados revelados e até nos mais secretos, descobri que pouco deles me têm serventia nestes tempos de meia idade.
Aquele papel amarelo com o contato de alguém que já nem me diz mais nada foi pro lixo literalmente, endereços de e-mail deletados, aquele vestido dos tempos do corpo esguio e sapatos de bico fino e salto alto foram doados.
Decretei que o conforto é mais importante afinal não tenho a obrigação de impressionar ninguém a não ser agradar a mim mesma.
Decidi investir em mim, saúde, família e qualidade de vida são meus lemas.
Guardei com carinho as coisas que realmente me são valiosas. E na descoberta de cada uma delas me reservei um tempinho para recordar o porquê às guardei. Encontrei no baú, as lembranças da infância na cidade mineira em que cresci os amigos da época, as brincadeiras de rouba bandeira, mamãe da rua, esconde-esconde, as festas juninas... E os grandes espetáculos circenses, sob lonas improvisadas com cobertores e colchas, que eu e meus irmãos apresentávamos para uma platéia refinada de pais, familiares e amigos orgulhosos dos movimentos mirabolantes ensaiados inúmeras vezes.
Parece coisa da idade que vai chegando, mas isso não é verdade! É resultado dos esforços do trabalho de terapia. E logo eu que nunca acreditei precisar dela um dia, me perdoem os psicólogos e terapeutas.
Hoje tenho consciência de que perdi tempo, investimento na correria do dia a dia e na busca pelo acúmulo numa ânsia de satisfazer os desejos, agora resgatar o que perdi é ponto visceral.